Por
Marcus Vinícius Rodrigues
Ao abrir ao
acaso o livro de estreia de Carollini Assis, o leitor poderá imaginar,
desavisado, que se trata talvez de um livro de haicais pela exiguidade dos
poemas. Poucas palavras, versos curtos. Há mesmo momentos de se ter vontade de
verificar a métrica para ter certeza. Não é o caso. Não é nem poderia ser. Os
poemas de Carollini não poderiam jamais ser enquadrados em alguma forma fixa da
tradição. Sua potência lírica é feita de brilhos súbitos, fachos de luz que
iluminam uma outra potência, o erotismo feminino. Não aquele erotismo a que
estamos acostumados: a mulher vista e desejada. Esta é uma mulher que passeia e
exerce seus desejos de maneira tão absoluta que produz uma sensualidade não de
nicho, mas universal, percebível por qualquer um. São poemas que dizem de todos
nós.
O livro é
feito de muitas pequenas cintilações, corpos, dores, gozos, lutas... O leitor
pode se fixar em um poema e, como quem observa por uma fresta, deparar-se com
todo um mundo. E são vários: há narrativas inteiras em apenas quatro versos; há
sentimentos expressos em uma palavra que dizem toda a condição da mulher neste
planeta, um jogo que oscila entre o explícito de palavras que poderiam ser
vistas como malditas e o implícito das palavras não ditas. Jogo intelectual,
jogo sensorial. Carollini mostra e esconde, oculta e revela, e essa é sua
verdadeira sensualidade, uma luz estroboscópica que forma, no final, como uma
tela impressionista, um quadro inteiro, o indivíduo completo. Essa é sua
sedução.
(N.E) Você pode adquirir o livro AQUI
Marcus Vinícius Rodrigues
É escritor com diversos livros
publicados, entre os quais se destacam Arquivos de um corpo em viagem (Mondrongo,
2015. Poesia) e A eternidade da maçã (7
Letras, 2016. Prêmio Nacional Academia de Letras da Bahia)
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