sábado, 14 de janeiro de 2017

O LIVRO DAS PALAVRAS MAL DITAS

Por Marcus Vinícius Rodrigues


Ao abrir ao acaso o livro de estreia de Carollini Assis, o leitor poderá imaginar, desavisado, que se trata talvez de um livro de haicais pela exiguidade dos poemas. Poucas palavras, versos curtos. Há mesmo momentos de se ter vontade de verificar a métrica para ter certeza. Não é o caso. Não é nem poderia ser. Os poemas de Carollini não poderiam jamais ser enquadrados em alguma forma fixa da tradição. Sua potência lírica é feita de brilhos súbitos, fachos de luz que iluminam uma outra potência, o erotismo feminino. Não aquele erotismo a que estamos acostumados: a mulher vista e desejada. Esta é uma mulher que passeia e exerce seus desejos de maneira tão absoluta que produz uma sensualidade não de nicho, mas universal, percebível por qualquer um. São poemas que dizem de todos nós.
O livro é feito de muitas pequenas cintilações, corpos, dores, gozos, lutas... O leitor pode se fixar em um poema e, como quem observa por uma fresta, deparar-se com todo um mundo. E são vários: há narrativas inteiras em apenas quatro versos; há sentimentos expressos em uma palavra que dizem toda a condição da mulher neste planeta, um jogo que oscila entre o explícito de palavras que poderiam ser vistas como malditas e o implícito das palavras não ditas. Jogo intelectual, jogo sensorial. Carollini mostra e esconde, oculta e revela, e essa é sua verdadeira sensualidade, uma luz estroboscópica que forma, no final, como uma tela impressionista, um quadro inteiro, o indivíduo completo. Essa é sua sedução. 
(N.E) Você pode adquirir o livro AQUI


Marcus Vinícius Rodrigues

É escritor com diversos livros publicados, entre os quais se destacam Arquivos de um corpo em viagem (Mondrongo, 2015. Poesia) e  A eternidade da maçã (7 Letras, 2016. Prêmio Nacional Academia de Letras da Bahia)

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