terça-feira, 27 de junho de 2017

Novo livro de Renato Prata começa a receber crítica

O livro “Breve antologia poética”, do premiado poeta baiano Renato Prata, a ser lançado em breve, já começa a receber suas primeiras apreciações críticas. 

Versos na Pulseira do Tempo
 Cyro de Mattos

O baiano Renato Prata nasceu em Itabuna, como sua irmã Heloísa Prazeres, que também é poeta.  Em Breve antologia poética (2017) publica dessa vez uma seleção de poemas extraídos de seus quatro livros:  Sob o cerco de muros e pássaros (2003), A quinta estação (2007), A pulseira do tempo (2012) e Mar Interior (2015), além de outros retirados das antologias Poetas da Bahia II e III (2003, 2015) e Outros Riscos (2013). Essa Breve Antologia Poética, que nos dá uma amostragem da vida em seu claro parentesco com a música, a considerar espaços da significação ideal do mundo através do verso, é organizada por Heloísa Prazeres.
De marcante presença na lírica contemporânea da Bahia, o poeta de gestos recatados preferiu conviver com o seu projeto estético, em exercício qualificado, durante décadas até que comparecesse em livro. Recolhido ao silêncio de suas criações, não optou por conviver em grupos, forjar alianças, para desfrutar de certo comércio no setor, muito comum aos elogios mútuos e fáceis. Tornou-se o principal crítico de sua produção poética antes de fazer sua estreia como um poeta maduro, privilegiado em sua expressividade nas construções de formas líricas, tanto nos versos livres como nos de estruturas fixas.
Conquistou alguns prêmios literários importantes na Bahia. Um de seus livros teve a edição do próprio autor, já  outros três foram publicados por editoras  baianas de porte pequeno, sem atuação no circuito nacional. Mas o que vale é a sua poesia, que,  de livro a livro, apresenta-se  integrada de linguagem e vida. 
Poeta de ritmo melodioso, desde a estreia em Sob o cerco de muros e pássaros revela que, se procede dos deuses, viaja com tropeços na claridade. Lê-se no poema “O passado investe nossos passos” que os versos da juventude nem chegaram a ter escritura, “gastaram-se no limbo por decênios”.  Sem cantar “as efusões de um dia,  amadas inúteis, o primeiro encontro com a morte”, a certa altura  indaga da razão dessas impressões líricas, guardando sonhos no que sabem o quanto viver, no fluxo e refluxo do prazer,  têm o passado que investe nossos passos. Leva-nos  à conclusão de que um clima é formado de acréscimos líricos,  que a cada momento formam um corpo concentrado em si de sentimentos, escavações no interior, que são expostas aos ventos. 
É nesse tom essencialmente lírico, participante de momentos com aguda sensibilidade,  que encontramos  um poeta inventor do poema com lastros da miragem, ternuras, purezas, maciez e algum presságio. Toca em nossos ouvidos uma poesia orvalhada de emoções, trinado de pássaro, jogo das ondas no vasto mar de  ideias, que   no seu timbre ritmado de cores, sutilezas várias, corre e voa com a musicalidade de sua composição quando escalavra o vento.  Tece com sabedoria o silêncio marcado pela ilusão, que se  impôs nas trilhas do sonho através do intercâmbio da palavra capaz de  esclarecer o  mundo.
De arguta leitura da vida, compartimentada no verso, como no poema “Rastrear os deuses”, Renato Prata  expõe sua crença na poesia quando afirma que elabora o verso para atravessar divisas da solidão, maneja-o com precisão para capturar sentidos que revelam o mundo.

Eu faço versos mais cedo
Quando arfa o silêncio pela casa
Olhos de neblina e entressonho
Rastreando os deuses da poesia.

         Na poética construída com paciência e consciência do ofício,   nota-se como  o poeta em si concebe esse sujeito que tem veias de vidro para refletir o mundo, esse habitante daquela ilha verde com a aridez dos anos,  expedindo canção e danação, mas desprovido de cupom fiscal. Quando dotado de sensibilidade arguta, constrói belas e verdadeiras estrofes, tentando equilibrar-se entre espantos,  na direção constante de quem incorpora novas opiniões perante a experiência humana no mundo.  

Não guardo moldes e cálculos
Soletro tempos e pássaros
Mas tudo exponho aos ventos.

         Nessa Breve Antologia Poética, de novo percebo as qualidades de um discurso que vaza lucidez, pulsando nas intimidades de suas estações com a pulseira do tempo o eu lírico, em procedimentos de teor filosófico, até mesmo nas  incursões  expressivas metalinguísticas. Nessas suas maneiras alusivas da vida, que são apenas ondas antes de alcançar o cume e espraiar na metáfora, prova ser a sua força a de um lírico autêntico, a ação quase não se fazendo perceptível, o poeta caminhando pelo interior de espaços que existem independentes de sua forma instrumental, manifestando-se    com imagens que se ajustam a uma inventiva formal que só os poetas experientes dominam.
Contra o silêncio de seres e objetos, em suas relações intransponíveis ao primeiro golpe de vista, emerge esse poeta de sentidos e visões penetrantes do que importa deixar-se ficar, vale tocar e decifrar. Revela, em sua legítima impressão digital, sinais que reverberam solidões, estados de alma por entre cenas do cotidiano, plasmadas pelas luzes da memória, transes e emoções de quem sabe ser isso a veia e o veio para dialogar com o outro nas incompletudes do tempo, indiferente ao que nos envolve e habita no trânsito da existência.  Desse ponto de vista, existe sem dúvida uma proposta formulada que chamo de pulsações líricas no labirinto de Orfeu, que comove nessa coisa afável, diáfana, feita de versos e estrofes para suportar a vida.            

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·  Cyro de Mattos é ficcionista e poeta. Publicado em inglês, francês, italiano, espanhol, alemão, dinamarquês, russo. Premiado no Brasil, Portugal, Itália e México. Membro titular da Academia de Letras da Bahia. Doutor Honoris Causa da Universidade Estadual de Santa Cruz.  

Novo livro selecionado para a Série Katharina

Hoje, dia 27 de junho, lembramos os 10 anos da morte do grande poeta Bruno Tolentino anunciando mais um livro para a Série Katharina, criada em sua homenagem, que já tem “Auto da Romaria”, de João Filho, e “Natal de Herodes”, de Wladimir Saldanha, publicados. O livro escolhido foi “Februarius”, do poeta Igor Barbosa.


O AUTOR
IGOR BARBOSA nasceu em Pernambuco, no ano de 1984, e reside na cidade do Rio de Janeiro. Estudou Filosofia e Letras na UERJ. Teve poemas publicados na Revista Dicta & Contradicta, edição 4, e na internet. É também autor de livros técnicos, produtor musical e compositor.

O LIVRO

O nome fevereiro vem do latim februarius, inspirado em Februus, deus da morte e da purificação na mitologia etrusca. E se o título “Februarius” remete ao mês que os antigos dedicavam aos mortos e aos rituais de expiação, Igor Barbosa inocula nessa ambiência um irresistível sentido de fevereiro brasílico, mas sem qualquer concessão ao fácil, dando provas da vitalidade de nossa poesia contemporânea: as temáticas transcendentes partem em geral da experiência cotidiana, com uma voz poética atenta ao mesmo tempo às formas elevadas e ao falar brasileiro. Versos livres, formas fixas e poemas heterométricos servem às necessidades expressivas de um estreante que já chega senhor de seu ofício. 


quinta-feira, 1 de junho de 2017

NOVO LIVRO DE NILSON GALVÃO

Novo livro do Nílson Galvão é o 12º da Série Horizontes, cuja contribuição à literatura baiana é mapear e procurar publicar o que há de mais relevante na poesia da nossa chamada Geração Anos 2000.