Nesta
sexta-feira, dia 31, a partir das 19 horas, no Haus Kaffe (Pátio do ICBA –
Corredor da Vitória), em Salvador, a Mondrongo apresenta três novos e ótimos livros.
São eles: Auto da Romaria (Poesia), de João Filho; Natal de Herodes (Poesia),
de Wladimir Saldanha; e Virgílio e Os Cantadores (Ensaios), de Mauro Mendes.
Abaixo,
breves comentários sobre cada livro.
AUTO DA ROMARIA
(Por
Luciane Amato)
"Lugar
de nascimento é destino", nos diz o poeta João Filho, e livros têm o seu
destino como disse um outro poeta, e este destino, dentre tantos outros,
consiste em nos dar uma perspectiva que permita ressignificar as nossas
histórias e as histórias tanto dos nossos entes queridos quanto dos não tão
queridos, como faz esse livro.
Muitos
leitores serão, sem dúvida, como eu, transportados — e aqui, outro destino dos
livros — para as cidades do interior onde nasceram e foram criados, se não com
a Romaria, ao menos com as procissões que nos imprimiram definitivamente o
caráter do Sagrado podendo, agora, desde a perspectiva desse mundo recriado por
João Filho, renovar aquela impressão, pois percebemos aquele pequeno povo de
Bom Jesus da Lapa e dos romeiros que lá foram dar, envoltos e interpretados
pela Paixão de Nosso Senhor e, com essa percepção, recuperamos o sentido
aqui, atenuamos alguns ressentimentos
ali, descobrimos o que estava oculto em alguns corações acolá.
NATAL DE HERODES
(Por
Emmanuel Santiago)
T.S. Eliot diz que a poesia “não é a expressão da
personalidade, mas uma fuga da personalidade”, fuga que se dá através da
tradição. Porém, ao se apropriar da cultura, impregnando-a de suas vivências, o
poeta é capaz de dar-lhe um sentido psicológico próprio, convertendo figuras
históricas e do imaginário popular em mitologia pessoal. É essa sutil e difícil
química que Wladimir Saldanha logra obter: inquietação metafísica, tensão entre
o espiritual e o sensível com que dialoga o excelente e peculiar trabalho do
ilustrador Felipe Stefani, cujas linhas revoltas sugerem uma diafaneidade das
figuras, ao tempo em que lhes emprestam a materialidade do risco como tal.
VIRGÍLIO E OS CANTADORES
(Por Soares Feitosa)
O meu projeto é falar sobre a palavra poética, nestes
dois extremos, o erudito (Virgílio) e o popular (os cantadores de viola).
Convivem? Não e Sim. Não, pois, na maioria dos casos, as duas castas se
repelem. Enquanto os cantadores cultivam mais e mais a sua cantoria, os
eruditos afastam-se mais e mais do popular. Tudo isto constitui uma perda, uma
dicotomia desnecessária, que “Virgílio e os Cantadores” tenta desfazer, porque
o bom é perfazer essa viagem Grécia (Roma) e sertão. Sim, apenas nuns quatro
gatos pingados. O poeta Gerardo Mello Mourão foi um dos poucos que citavam suas
origens intelectuais como menino de feira, ouvindo os cegos cantadores, em Ipueiras,
no sertão do Ceará. Eu também os ouvia em Nova Russas (CE), na voz soberba do
cego Dantas, seca de 1958, por aí, e, logo no início deste livro de Mauro
Mendes, ficamos sabendo que, pela mesma época, ele também ouvia os cantadores de
viola nordestinos, em Quixadá (CE).
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